quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Abandono

 

Abandono


      Tudo já estava por um fio. A relação, marido, mulher não fazia mais sentido. Vivíamos tempos de cautela. Era difícil falar sobre qualquer coisa sem provocar uma tempestade num copo d'água mais, havia aquela pontinha de esperança; aquela bem distante que me fazia crer que no fim das contas tudo terminaria bem.
     Triste ilusão. A ilusão de esposas fracassadas em casamentos falidos que acham que todo e qualquer vaso quebrado tem concerto.
     Que feitiço o casamento provoca em nós que nos faz acreditar que nunca acabará?
     Por que nos deixamos levar pela esperança de algo que temos certeza que não dará certo?
     Áquela noite, eu pensei que estávamos salvos. Que nossa união não teria um fim.
     Foi, senão a maior, uma grande decepção na minha vida.
     Procurei por toda noite um lugar pra enfiar minha cabeça, como fazem os avestruzes.
     Ele estava ali, estático ao meu lado, como se nem ao menos me conhecesse. Vivi dezessete anos com um homem que só conheci naquela noite.
     Como pude me iludir tanto. Logo eu que achava ser capaz de ver o interior das pessoas.
     Esperei por toda noite, um abraço, um toque carinhoso em minha mão...um beijo em minha face ou apenas um olhar que me fizesse crer que estava tudo bem e que eu não estava sozinha.
     A espera foi em vão.
     Ganhei apenas desprezo, incompreensão e solidão.
     Senti o chão se abrir entre meus pés. Minha vista escureceu e uma enorme sensação de vazio e solidão se apoderou de mim.
     Quis correr mais, não sentia minhas pernas.
     Quis gritar mais não tive voz.
     Tentei, desesperada, procurar por socorro mais não vi ninguém que me socorresse.
     Estava quase sem forças; o corpo todo tremia e uma enorme ansia de vomito me invadiu como um enorme furacão...ia vomitar...chamei em silêncio por socorro, pedi a Deus que me ajudasse... eu não merecia aquilo, não era justo...minha cabeça doia e girava, ia vomitar...
     Meu socorro chegou, o telefone tocou e antes mesmo de ouvir a voz do outro lado da linha, senti a agradável sensação de braços me acolhendo...Foi Deus...Tenho certeza.
     Eu nunca vi um justo ser desamparado e eu não fui. A voz no outro lado da linha me levantou e me deu forças para terminar aquela noite.
     A força que eu esperava receber do homem ao meu lado com quem dividi dezessete anos de minha vida não veio dele, veio de alguém que a muito tempo eu resisti em chamar de amiga.
     A força veio de Deus.
     Quanto a nós...não sei. Tenho lembranças horríveis daquela noite. 
     Fiquei cega e seca e as ânsias de vômito com as lembranças continuam.
     Cega para o amor...para um recomeço... Não sei se posso confiar e dar uma nova chance.
     Ao mundo anuncio que estou viva e embora ferida, não fui destruída.
     Começo agora uma nova jornada  de fé no futuro melhor.
     Apesar de tudo...vou continuar vivendo....


O senhor é o meu pastor e nada me faltará.
Obrigado meu Deus.

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